sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Lógicas bizarras de mercado: especulação

Podemos dizer, com certa segurança, que a economia é a ciência mais importante desse começo de século. O que mais ouvimos falar todo dia é de mercado. Mercado, com M maiúsculo, como Deus, porque é verdadeiramente o deus de nosso tempo. Tanto que nos relacionamos com ele assim como nos relacionávamos com nossos ídolos antigos: o Mercado está nervoso, está inseguro, o governo vai alterar a taxa de juros para acalmar o Mercado, e por aí vai. O Mercado é uma besta perigosa, a qual precisamos obedecer e tratar com carinho.

Ou nada disso. O que ninguém parece entender, é que por trás desse idioma alternativo de shareholding, business management, e o escambal que usam para falar de economia, por trás dessa religião que tornou o mercado essa coisa metafísica que governa o destino do mundo, se escondem algumas lógicas que, quando examinadas, são verdadeiramente bizarras.

O Mercado é constituído, à despeito de ativos, insumos, commodities, ou sei lá como mais se chamam, de “coisas” em geral a serem compradas e vendidas, e de “gente” (empresas, investidores isolados, grupos de investidores, etc.) em geral que compram e vendem essas “coisas”. Pois bem. Algumas coisas são óbvias: se muita “gente” quer comprar uma determinada “coisa”, seu preço aumenta, se pouca “gente” quer comprar, diminui. As bolsas de valores são lugares onde operamos uma globalização da economia, possibilitando que gente de muito longe possa comprar nossas “coisas” (as ações, por exemplo, que são “pedaços” de uma empresa). É um avanço enorme: se apenas gente de Belo Horizonte, para dar um exemplo, pudesse investir numa empresa minha, minhas chances de dar certo seriam bem menores.

Passando adiante, para um tema bem comum nesses dias. O que são os especuladores? Podemos defini-los pensando da seguinte forma: uma coisa é eu investir em determinada “coisa” por que tenho interesses nela, por que pretendo investir (no sentido subjetivo) nela, tal qual invisto num namoro. Por exemplo, torno-me sócio de uma empresa, e invisto nela. Estou tomando parte naquele negócio. Especulação é uma coisa diferente. Eu ponho dinheiro naquela “coisa” apenas esperando que ela se valorize, geralmente por que outros especuladores também põem dinheiro naquela “coisa”, e depois vendo quando ela está valorizada. Pouco importa o valor real da “coisa”, o nome, ou qualquer outra coisa. Importa que eu possa comprá-la barata e vendê-la cara.

Isso leva a algumas situações inusitadas, para quem está pensando de fora. O preço do petróleo, nos últimos tempos, é uma dessas situações. Com o prenúncio de crise econômica se anunciando, os investidores (leiam-se: especuladores em sua maioria) começaram a investir em outros tipos de “coisas”, e a escolhida foi o petróleo. Tem valorização estável, afinal, todo mundo precisa abastecer seus carros, além de usinas, e diversos outros setores que usam os derivados do petróleo. Assim, criou-se a chamada “bolha”. E o que é uma bolha? É justamente quando uma determinada “coisa” valoriza-se tanto com esse dinheiro de especulação que supera enormemente seu valor real. No caso do petróleo, estima-se que seu valor real (com base no preço antes da especulação desenfreada) era de 80, 90 dólares o barril. Em Julho desse ano, o preço do barril chegou a 147 dólares, recorde na história. Pagava-se entre 50 e 60 dólares por barril só por causa da especulação. Ou seja, como já dissemos, porque gente que nunca viu petróleo na vida e não quer ver comprou porque ele estava valorizando, para vender mais caro. Se um barril de petróleo equivale a 158,9873 litros, segundo o wikipédia, faça as contas para imaginar quanto uma empresa que consome enormes quantidades de petróleo (milhares ou milhões de barris) pagou aos especuladores.

É ou não é bizarro? E ainda sempre há uma ironia. Uma bolha também tem esse nome porque pode estourar a qualquer hora. O preço do barril, hoje 26 de Setembro, é de 101 dólares, com tendência a cair muito, segundo os “analistas”. E quem paga a conta do estouro? Será o assunto do qual trataremos no próximo post.

Um comentário:

Anônimo disse...

De fato é uma lógica bizarra, onde os que necessitam pagam muito graças aos especuladores.

Pode-se comparar os investimentos no petróleo com os investimentos feitos nos Estados Unidos, onde ocorreu recentemente uma nova quebra da bolsa...

Com esses altos investimentos somente por especulações, quem garante que o preço do petróleo não desvalorizará?